Seis curiosidades que provavelmente você não sabe sobre a bicicleta
fevereiro 14, 2024Por: Isabela Alves
A bicicleta é o transporte ecologicamente mais sustentável do planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, muitas pessoas estão trocando seus carros pela bicicleta devido a fatores como os engarrafamentos no trânsito, o transporte público deficiente, a poluição e a busca por uma vida mais saudável.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil tem mais bicicletas do que carros. São 50 milhões de bikes contra 41 milhões de carros. Apesar disso, apenas 7% dos brasileiros utilizam a bicicleta como meio de transporte principal.
Atualmente, muitos projetos sociais vêm incentivando o uso da bicicleta. Este é o caso do Instituto Aromeiazero, que desenvolve ações nas quais a bicicleta é usada como um instrumento de mudança social. “Quando você está andando de bicicleta, além de estar melhorando a saúde, também tem um impacto ambiental positivo”, explica Murilo Casagrande, 36 anos, diretor do Instituto Aromeiazero.
O Aro promove diferentes projetos com foco na bicicleta. Entre eles estão o Pedala, que promove debates e aulas de mecânica a partir da recuperação de bicicletas usadas; o Bike Arte, festival de rua colaborativo com exposição, shows, teatro e oficinas; e o Rodinha Zero, em que crianças são ensinadas a andar de bicicleta sem o pedal. “A bicicleta é uma ótima desculpa para falar de várias coisas e com diferentes pessoas. No projeto, a gente consegue conversar com pessoas da periferia e ir até para congressos internacionais”, relata.
As ciclofaixas em São Paulo
São Paulo é a cidade com mais ciclovias na América Latina. Em dezembro de 2016, a metrópole passou a ter 498,3 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 468 km de ciclovias/ ciclofaixas e 30,3 km de Ciclorrotas. Isso é mais do que os 467 km de Bogotá (Colômbia), 450 km do Rio de Janeiro e os 411 km de Brasília.
Mesmo assim, segundo o diretor do Aromeiazero, a cidade ainda tem muito para avançar no quesito das ciclofaixas. Murilo Casagrande também destaca que a bicicleta é uma maneira de humanizar a cidade. “A ciclofaixa é um traçado que muda a geografia da rua e muda a relação entre as pessoas. Para construí-la, também é necessário pensar em outras questões como a redução de velocidade, mais árvores e iluminação noturna. São coisas que não estão ligadas à bicicleta, mas já melhoram todo o ambiente”.
Além disso, a bicicleta oferece diversas vantagens aos usuários. Além de ter um custo bem mais barato do que o automóvel, causa menos acidentes e ajuda na saúde mental e física de quem a usa. “Ainda é possível educar as pessoas para que elas andem mais de bicicleta. A primeira coisa que se precisa fazer é desestimular o uso do carro e a segunda é abrir um espaço para que as pessoas voltem a experimentar. Quanto mais a pessoa anda de bicicleta, mais prazer na vida ela tem”, comenta Casagrande.
Em junho, ocorrerá, no Rio de Janeiro, o Velo-city 2018. O evento visa estimular o uso da bicicleta no dia a dia da cidade. A conferência receberá os prefeitos de Paris, Copenhague, Amsterdã, Bruxelas e Dublin, e o Instituto Aromeiazero participará do evento, por defender o uso da bicicleta como instrumento de inclusão social.
“Nós olhamos para os outros países como se eles estivessem bem mais avançados que nós, mas eles vão vir para cá e muitas soluções de inclusão vão sair daqui. É legal estar protagonizando isso agora, porque senão sempre vai ficar no ‘vamos para o exterior aprender como se faz’. Eles têm mil coisas para ensinar, mas a gente também tem”, afirma o diretor do Aromeiazero.
Uma vida transformada pela bicicleta
Simone da Silva, 36 anos, é gestora hospitalar e atua como voluntária em um dos projetos do Aromeiazero. Desde outubro de 2017, ela dedica suas manhãs e tardes de sábado a crianças e jovens que estão aprendendo a andar de bicicleta no projeto Rodinha Zero.
Ela conheceu o projeto social por meio do curso ‘Viver de Bike’, ação que ensina a jovens e adultos conceitos de responsabilidade social e financeira, empreendedorismo e mecânica de bicicleta.
A bicicleta faz parte da vida de Simone desde a infância. “Eu sou da época em que as crianças andavam muito de bicicleta na rua. Por conta disso, aos três anos eu ganhei a minha primeira bicicleta”. No entanto, como é o caso de muitas pessoas, a bicicleta parou de fazer parte da sua vida na fase adulta.
“Eu parei porque entrei na faculdade e no trabalho. Eu achei que a qualidade de vida estava ligada ao carro, mas eu ficava o dia todo no trânsito”, conta. Trabalhando com medicina, sua rotina consistia em visitar diversas casas e hospitais, mas, por conta do estresse do trânsito, Simone passou a ter sérios problemas de saúde.
“Eu passei por muitas situações de assalto e de violência no trânsito. Mesmo com tanto medo, depois de um tempo, você começa a achar que o carro é muito seguro e até para ir à padaria você o usa. Só que nisso eu comecei a ter síndrome do pânico”, relembra com tristeza.
A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade no qual ocorrem crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente. Depois de ter sido diagnosticada com a doença, ela procurou uma solução.
“Eu sabia que parte da cura não era só tomar o remédio, mas também como a gente muda o estilo de vida. Eu encontrei na bicicleta a solução para o problema da minha vida”. Aos 28 anos então, ela procurou introduzir a bicicleta no seu dia a dia, não apenas como diversão, mas como meio de transporte.
“Quando eu parei de usar o carro foi lindo, porque isso já estava dentro de mim, mas eu que não estava sabendo. O tempo que eu perdia, que eram duas horas indo de carro para o trabalho, eu passei a fazer em 40 minutos”, diz. Moradora de Osasco, município da Grande São Paulo, ela enfrenta diversas dificuldades, porque na cidade não existem ciclofaixas. “Para me locomover em Osasco tem que ser na raça”.
Mesmo sentindo medo algumas vezes, ela acredita que, ao andar de bicicleta na rua, pode reeducar os motoristas. “Eu sou uma linha de frente para quebrar essa barreira. Às vezes, falando eu não consigo atingir as pessoas, mas fazendo com que elas me observem, as coisas podem mudar”, conta.
Simone acredita que a cobrança por políticas públicas está cada vez mais forte, mas um dos pontos mais importantes é conscientizar o máximo de pessoas possível sobre essa questão. “Hoje eu sou mãe e estou educando um ser humaninho de cinco anos e ela sabe mais sobre educação e respeito com outra pessoa do que muitos motoristas habilitados”.
Para ela, as pessoas deveriam trocar o carro pela bicicleta porque isso muda a sua visão sobre si mesmo, a relação com a cidade e com o tempo. “A bicicleta é boa em qualquer lugar. A sensação de estar subindo uma montanha ou subindo uma ladeira é a mesma. É você quem coloca beleza na viagem”, conclui.
Fonte: Observatório Terceiro Setor